A Coluna da Força
Uma coluna[1] é geralmente definida como um “pilar que sustenta abóboda ou entablamento ou que serve para simples adorno”[2]. Um Templo Maç∴ contém, pelo menos, cinco colunas: as colunas jónicas, as colunas dóricas, as colunas coríntias, a coluna B∴ e a Coluna J∴.
No Primeiro Livro dos Reis[3] é referido que “E formou duas colunas de cobre; a altura de cada coluna era de dezoito côvados, e um fio de doze côvados cercava cada uma das colunas.” Já no Segundo Livro das Crónicas é referido: “E levantou as colunas diante do templo, uma à direita, e outra à esquerda; e chamou o nome da que estava à direita Jaquim, e o nome da que estava à esquerda Boaz.”[4] [5]
Ora, no Templo de Salomão, diante do Pórtico, havia duas grandes colunas de bronze, que constituíam a porta do Templo, que não tinham uma natureza estrutural e cuja intenção, apenas, simbólica. Segundo Edgar Perramon[6], “À entrada estavam duas colunas, B (força) e J (beleza) sobre as quais se encontravam o Universo e uma Romã ligeiramente aberta como símbolo da maturidade.”
“Boaz”[7] é uma personagem histórica citada no Livro de Rute, no I Livro das Crónicas e nas genealogias de Jesus que se encontram no Novo Testamento[8]. No Livro de Rute, no entanto, é onde é mais referido, dada a sua relação matrimonial com Rute. Assim, Boaz era avô do Rei David e, por conseguinte, bisavó do Rei Salomão.
A etimologia do nome tem vindo a ser associada[9] a be’oz, “na força de”, ou bo’oz, “nele (é) força” da raiz ‘zz, “ser forte”. No entanto, há também quem indique que a etimologia do nome significa “de mente afiada”.[10]
As colunas B∴ e J∴ são também denominadas como “colunas salomónicas” ou “colunas solsticiais”[11]. Tal sucede porque, a Coluna J∴ situa-se a Ocidente ao Sul e, assim, marca o solstício[12] de Verão e, por seu turno, a Coluna B∴, situando-se a Ocidente ao Norte e marca o solstício de Inverno.
Ora, a Coluna B∴ ou “Boaz” é denominada como a Coluna da Força e, estando a Ocidente ao Norte, é também a Coluna que protege e sustenta a Coluna dos Apr∴, certamente necessitados de Força para melhor poderem travar as batalhas e ultrapassar os desafios existentes com o escopo de alcançar a Luz. É, ainda, a Coluna dirigida 1.º Vig∴.
Falar apenas da Coluna B∴ seria, no mínimo, um golpe incompleto. As duas Colunas encontram-se paralelas e podemos antever que representam, também a dualidade. Aliás, é consabido que o princípio da polaridade, o quarto princípio referido no Caibalion, salienta que “tudo é Dual; tudo tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos tocam-se; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.” [13]
Eliphas Levi[14] refere, aliás, que “o conhecimento supõe o binário” e salienta que “

é o homem;

é a mulher; 1 é o princípio; 2 é o verbo; A é o ativo; B é o passivo; a unidade é Bohas; o binário é Jakin.” As duas colunas explicam na Cabala e como ensina este autor, “todos os mistérios do antagonismo, quer natural, quer político, quer religioso, explicam a luta geradora do homem e da mulher, porque, conforme a lei da natureza, a mulher deve resistir ao homem, e este deve atraí-la ou submetê-la.” Quando passamos entre colunas, como que transpomos esta realidade, onde o binário é a revelação. Aliás, Binah, o “entendimento” é a terceira sephirah da Árvore da Vida e foi a primeira manifestação da forma sobre a força, por esse motivo chamada de “Grande Mãe”. E Malkuth, a última sephirah da Árvore da Vida, dual em relação a Binah, apoiado em Geburah[15] e Chesed[16], é o Templo de Salomão, tendo por colunas Jakin e Boaz. Deste modo, Jakin e Boaz são as duas forças do Grande Agente. A união da razão e da fé resultará do seu exame mútuo e da sua dualidade fraterna. Só separadas, têm força idêntica; juntas destroem-se mutuamente. Nós, Homens, precisamos de dois pés para manter o equilíbrio; o Mundo, da gravitação de duas forças. É necessário saber e conseguir equilibrar as forças e conter os impulsos, o que apenas se conseguirá pela sua manutenção simultânea e a sua atuação alternativa. Assim, Boaz é a matéria e está ligada à letra mãe[17], o schin

Simbolicamente, é na Coluna B∴ que os Apr∴ recebem o seu salário. O mesmo é dizer que, sob esta Coluna os Apr∴ recebem as instruções necessárias para desbastar a pedra bruta e prosseguir a sua jornada. No fundo, é o local (sob a Força) onde o próprio Apr∴, trabalha o seu carácter, personalidade, características, as virtudes e defeitos, capacidades e insuficiências, potencialidades e o necessário para o tornar realidade. Sob o auspício do dual, o trabalho na Pedra Bruta vai-se realizando, numa contínua cruzada pelo aperfeiçoamento, na busca dos conhecimentos, das lições, dos exemplos, das práticas que polirão e darão forma à Pedra. Mas só sobre esta coluna, não faz o Apr∴ o seu trabalho corretamente: tudo é dual.
[1] Do latim columna -ae, que significa coluna, apoio, arrimo.
[2] Vide https://dicionario.priberam.org/coluna, consultado em 25.08.2021.
[3] 1 Reis, 7:15
[4] 2 Crónicas, 3:17
[5] No mesmo sentido, vide 1 Reis, 7:21.
[6] Citação baseada no livro “Breve Manual Maçónico”, encontrada online, na Revista Arte Real, https://www.revistaartereal.com.br/wp-content/uploads/2014/02/O-TEMPLO-MA%c3%87%c3%94NICO-E-SEUS-S%c3%8dMBOLOS-tradu%c3%a7%c3%a3o-Jos%c3%a9-Carlos-Michel-Bonato.pdf, consultado em 26.08.2021.
[7] A palavra aparece 24 vezes nas Escrituras, sendo que, por duas vezes, na versão em Grego “Booz”.
[8] Vide Lucas, 3:32 e Mateus, 1:5
[9] Vide “The Anchor Bible Dictionary”, Vol I.(A-C), Doubleday, junho de 1992, página 765, consultado online em 26.08.2021 e disponível para leitura em https://archive.org/details/AnchorBibleDictionaryVol11992.rocs
[10] MARTIN NOTH, “Die israelitischen Personennamen im Rahmen der gemeinsemitischen Namengebung”, Gg Olms, 1966, página 228.
[11] Assim designadas nos graus superiores do R∴E∴A∴A∴
[12] Designa o “momento em que o Sol, durante o seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador.” Vide https://pt.wikipedia.org/wiki/Solst%C3%ADcio, consultado em 26.08.2021
[13] A.D., “O Caibalion – Três Iniciados”, 4.ª Edição, 2019, Marcador. Vide página 38 e 39 bem como página 96 a 100.
[14] Vide ELIPHAS LEVI, “Dogma e Ritual de Alta Magia”, páginas 19 e 20, disponível para download em https://meocloud.pt/link/d3658bad-00f0-4539-9e92-2f3f901e5956/Eliphas%20Levi%20-%20Dogma%20e%20Ritual%20de%20Alta%20Magia.pdf/
[15] “Força”, “Severidade”, a quinta sephirah da Árvore da Vida. Ali, está localizada acima de Hod e abaixo de Binah, no centro do pilar da severidade, contrastando em oposição à sephirah Chesed. A Geburah só não é má porque tem, precisamente, Chesed a equilibrá-la.
[16] “Misericórdia”, a quarta sephirah da Árvore da Vida. Ali, está localizada no centro do pilar da misericórcia, logo acima de Netzach e abaixo de Chokhmah, sendo o lado negativo da Geburah.
[17] As letras-mãe são o iod, o princípio absoluto, o ser produtor; o mem, ou o espírito, no fundo o Jakin de Salomão e o já referido schin. Vide ELIPHAS LÉVI, “A Chave dos Grandes Mistérios”, consultado online em 21.09.2021 e disponível para consulta em http://www.dhnet.org.br/w3/henrique/espiritualidade/salomao/eliphaslevi.htm.



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